Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2017

As cantigas trovadorescas - Parte III

Imagem
Cantiga de escárnio e maldizer As cantigas de escárnio e maldizer possuem viés crítico, sarcástico e irônico. [...] cantigas que os trovadores fazem quando querem “dizer mal” de alguém, estabelecendo em seguida uma diferença no que diz respeito ao modo: assim enquanto que nas cantigas de maldizer a crítica seria direta e ostensiva, nas cantigas de escárnio a crítica seria feita de modo mais subtil, “por palavras cobertas que hajam dous entendimentos” (ou seja, num registo de dupla leitura, o "equívoco", ou hequivocatium, nas palavras do mesmo anónimo autor). Tanto a cantiga de escárnio quanto a de maldizer são do gênero satírico. A diferença  de uma para a outra é que na primeira a provocação é indireta enquanto na  segunda o insulto é direto e agressivo. Pero Garcia Burgalês [Cantiga de escárnio e maldizer] Nostro Senhor, que bem alberguei quand'a Lagares cheguei, noutro dia, per ũa chúvia grande que fazia! Ca proug'a Deus e o juiz achei, ...

As cantigas trovadorescas - Parte II

Imagem
Cantigas de amigo A cantiga de amigo tem a presença da voz feminina e expõe a paixão da camponesa. Naquela época, a voz feminina não tinha uma “imagem a zelar” (diferente dos homens nobres), tendo maior liberdade de expressão. Por isso, os trovadores utilizaram-se dela para fazer cantigas sobre o amor carnal/físico, o eros . Vejamos: [...] a voz feminina que os trovadores e jograis fazem cantar nestas composições remete para um universo definido quase sempre pelo corpo erotizado da mulher, que não é agora a senhor mas a jovem enamorada, que canta, por vezes num espaço aberto e natural, o momento da iniciação erótica ao amor. Desta forma a velida (bela), a bem-talhada (de corpo bem feito) exterioriza e materializa de formas várias, formas essas enquadradas numa vivência quotidiana e popular, os sentimentos amorosos que a animam: de alegria pela vinda próxima do seu amigo, de tristeza ou de saudade pela sua partida, de ira pelos seus enganos – os sentimentos que o trovador ou...

As cantigas trovadorescas - Parte I

Imagem
A cantiga é uma forma poética em que os trovadores uniam letra e som. São três as principais cantigas galego-portuguesas: a cantiga de amor, a de amigo e a de escárnio e maldizer. Cantiga de amor A cantiga de amor tem como tema fundamental a coita e, também, conta com a presença da voz masculina. Mas, afinal, o que é a coita? A coita é a dor do amor cortês, é o sofrimento derivado da impossibilidade de realização do amor. Vejamos o que diz José D’Assunção Barros: O Amor Cortês, criação original dos trovadores que foi tão bem traduzida pelas cantigas trovadorescas de amor e pelos romances corteses do período medieval, não raro podia levar ao desespero, à paixão desmedida, ao desejo de morte diante da impossibilidade de realização da união com a mulher amada. Pois bem, é sobre esse tipo de amor que o trovador discorre em suas cantigas de amor. Ele está sempre lamentando o amor impossível devido à estratificação social. Além disso, o amor cortês está relacionado ao amor...

Quem eram os poetas?

Imagem
Dentre os poetas que entoavam as cantigas medievais existia uma hierarquia, que era ditada de acordo com a sua posição na corte. A divisão se dava em três categorias: o trovador, o segrel e o jogral. Os trovadores estavam no nível mais alto, pois quase sempre eram nobres ou tinham algum vínculo de proteção com a nobreza. Nas suas cantigas não existe nenhum fim específico. Sua preocupação era a arte e sua responsabilidade era escrever canções para que pudesse interpretá-las para a corte. Os cancioneiros menores interpretavam cantigas feitas pelos trovadores. Os segréis e os jograis costumavam ser de classes populares e tinham basicamente a mesma função. Não possuíam autonomia para cantar suas próprias composições, pois entrariam em conflito com os trovadores. Eles cantavam sozinhos as cantigas que os trovadores compunham, ou ajudavam na interpretação como segunda voz. Por serem de classes mais baixas, o que os diferenciava era o meio de locomoção de utilizavam para perambular e...

Origem das cantigas galego-portuguesas

Imagem
Vamos falar nesse post um pouco sobre as origens das cantigas galego-portuguesas. Elas foram produzidas durante o período final do século XII a meados do século XIV e basicamente as áreas onde foram desenvolvidas são: reino de Leão e Galiza, reino de Portugal e reino de Castela. O período histórico dessa origem se dá simultaneamente à Reconquista cristã. É impossível não comentar sobre a influência provençal dentro desse contexto. As poesias trovadorescas provençais (desenvolvidas no sul da França) foram difundidas pela Europa por vários motivos: herança cultural latina, peregrinações, casamentos de nobres occitânicos com os dos cátaros de Albi (sul da França). A partir de então, as cantigas galego-portuguesas serão produzidas tomando as provençais como influência. No entanto, como em todos os casos de referências, elas terão algumas modificações quanto à estrutura do gênero, como por exemplo, as categorias de cantigas. A divisão que conhecemos, entre cantiga de amigo, de amor e d...

O que é trovadorismo?

Imagem
Antes de prosseguirmos, que tal conferirmos a definição das palavras trovador e trovadoresco no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa? Trovador. [Do provenç. trobador , atr. do arc. Trobador .] S. m. 1. Designação dos poetas líricos dos sécs. XII e XIII, que se expressavam na chamada língua d’oc , falada no Sul da França, especialmente na Provença. 2. Designação dos poetas líricos portugueses que, nos últimos séculos da Idade Média, seguiam o estilo dos poetas provençais. 3. Designação comum aos poetas da Idade Média, a partir do séc. XI. 4. Na Idade Média, poeta ambulante que cantava seus poemas ao som de instrumentos musicais. Trovadoresco. Adj. 1. De, ou relativo ou pertencente a trovador. 2. Diz-se da poesia dos trovadores que floresceu em Portugal e na Galiza entre os sécs. XII e XIV.      Diante dessas breves definições expostas, podemos afirmar que quando falamos em Trovadorismo, pensamos nas cantigas produzidas na Península Ibérica em língua g...

Por que "O eu feminino"?

Imagem
Olá! No post de hoje, esclareceremos o nome do nosso blog:  O eu feminino: trovadorismo e tempos modernos . Conforme veremos mais a fundo posteriormente, dentre as cantigas trovadorescas, destacam-se as de amor, escárnio, maldizer e a de amigo - sendo esta a que mais daremos enfoque. Nas cantigas de amigo, o trovador utiliza-se do eu-lírico feminino, e assim "exterioriza suas emoções, aflições, expectativas, encontros amorosos, desencontros etc"¹. Nessa perspectiva, desenvolveremos um estudo acerca do eu feminino sob o olhar do homem medieval e, também, contextualizaremos essa visão com o imaginário contemporâneo. ¹  História social da literatura portuguesa . Benjamin Abdala Júnior, Maria Aparecida Paschoalin. São Paulo: Editora Atica, 1985.

Apresentação

Bem-vindxs! Hoje, damos início a nosso blog. Nele, discutiremos questões contemporâneas ligadas ao trovadorismo medieval, enfocando obras atuais e cantigas galego-portuguesas. Faremos, assim, um recorte a fim de analisar o eu-lírico feminino dentro dos textos escolhidos. Aos poucos, atualizaremos as postagens. Até a próxima!