O que é trovadorismo?
Antes de
prosseguirmos, que tal conferirmos a definição das palavras trovador e trovadoresco no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa?
Trovador. [Do provenç. trobador,
atr. do arc. Trobador.] S. m. 1. Designação dos poetas líricos dos sécs. XII e XIII, que se
expressavam na chamada língua d’oc,
falada no Sul da França, especialmente na Provença. 2. Designação dos poetas líricos portugueses que, nos últimos
séculos da Idade Média, seguiam o estilo dos poetas provençais. 3. Designação comum aos poetas da Idade
Média, a partir do séc. XI. 4. Na
Idade Média, poeta ambulante que cantava seus poemas ao som de instrumentos
musicais.
Trovadoresco. Adj. 1. De, ou relativo ou pertencente a
trovador. 2. Diz-se da poesia dos
trovadores que floresceu em Portugal e na Galiza entre os sécs. XII e XIV.
Diante
dessas breves definições expostas, podemos afirmar que quando falamos em
Trovadorismo, pensamos nas cantigas produzidas na Península Ibérica em língua
galego-portuguesa durante a Idade Média. E, para tratarmos dessas manifestações
culturais que seriam mais tarde reconhecidas como movimento literário, vale a
pena observarmos o contexto histórico que as compreende, pois este,
evidentemente, influenciaria as características básicas do nosso objeto de
estudo.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_galego-portuguesa> Acesso em 28/08/2017 às 19:31.
Comecemos pela
estrutura social portuguesa dos séculos XI a XIV: revelando típicos caracteres
feudais, compunha um sistema social fechado, no qual os senhores eram a
autoridade absoluta, exerciam domínio administrativo, militar e judicial em
suas terras, e só prestavam obediência ao rei. A população era formada
principalmente por servos, escravos e trabalhadores rurais, que exerciam suas
atividades nos domínios do senhor — a agricultura era a base da economia
portuguesa. Papel de destaque também desempenhava o clero, em razão da influência
religiosa que exercia e pelas riquezas que possuía. Esse sistema
político-social se caracterizou pela intensa relação de dependência dessas
mencionadas categorias, pois enquanto trabalhadores eram vassalos dos senhores
(nobres e eclesiásticos), estes eram vassalos do rei.
Vale ressaltar
que esse sistema era reiterado pelo espírito teocêntrico — a visão de Deus como
ser absoluto — e pela religiosidade do português medieval, o que acabava por
determinar toda uma concepção servil em que o homem nasce para obedecer.
Benjamin Abdala Júnior e Maria
Aparecida Paschoalin, em sua História social da literatura portuguesa, nos
informam que, embora fosse rica senhora feudal, a Igreja teve um papel
relevante na divulgação da educação: “Com as dificuldades de comunicação e de
transporte, com a raridade de livros e com o analfabetismo geral, o centro da
instrução pública só poderia se localizar nas catedrais ou escolas episcopais, nos
conventos e mosteiros”.
Os autores
ainda nos ensinam que:
“O português converteu-se em língua oficial desde o reinado de D. Diniz
(1279 – 1325), mas as escolas e mestres particulares não o ensinavam até finais
da Idade Média. Os poucos que aprendiam a escrever aproximavam a linguagem
escrita da linguagem falada e por isso os primeiros textos escritos em
português, nos princípios do século XIII, são quase traduções literais do
substrato latino”.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesa> Acesso em 28/08/2017 às 19:35.
Contudo, os
conhecimentos teóricos e práticos das grandes massas não escolarizadas, ou
seja, o grosso da população, eram transmitidos por via oral. Cantigas, tradições
populares, romances, sermões e provérbios eram produzidos para que fossem
ouvidos e tinham importante papel na formação dos indivíduos.
Foram
os jograis recitadores, cantores e músicos que perambulavam pelas feiras, castelos
e aldeias, responsáveis pela divulgação da literatura oral. E, podemos afirmar
com base no material preservado e compilado, que o grande período da cultura
trovadoresca ou das cantigas foi entre 1250 e 1350. Essa literatura cantada foi
registrada em coleções, conhecidas como Os Cancioneiros. Três são os conhecidos: “Cancioneiro da Ajuda”, “Cancioneiro da Biblioteca
Nacional” e “Cancioneiro da Vaticana”. O primeiro e mais antigo deles, conta
com 310 cantigas, quase todas de amor. Os dois restantes somam mais de mil cantigas,
distribuídas entre os quatro tipos: de amor, de amigo, de escárnio e de
maldizer. Todavia, esse é um assunto a ser desenvolvido nos próximos posts!
Referências bibliográficas
*Aulas ministradas pelo professor
Fernando Fiorese na disciplina de Estudos Literários II na UFJF 2017.3.
Abdala Júnior, Benjamin, 1943 -
História social da literatura portuguesa / Benjamin Abdala Júnior, Maria
Aparecida Paschoalin. - 2ª ed. - São Paulo: Ática, 1985
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