As cantigas trovadorescas - Parte I

A cantiga é uma forma poética em que os trovadores uniam letra e som.
São três as principais cantigas galego-portuguesas: a cantiga de amor, a de amigo e a de escárnio e maldizer.

Cantiga de amor
A cantiga de amor tem como tema fundamental a coita e, também, conta com a presença da voz masculina. Mas, afinal, o que é a coita? A coita é a dor do amor cortês, é o sofrimento derivado da impossibilidade de realização do amor. Vejamos o que diz José D’Assunção Barros:
O Amor Cortês, criação original dos trovadores que foi tão bem traduzida pelas cantigas trovadorescas de amor e pelos romances corteses do período medieval, não raro podia levar ao desespero, à paixão desmedida, ao desejo de morte diante da impossibilidade de realização da união com a mulher amada.
Pois bem, é sobre esse tipo de amor que o trovador discorre em suas cantigas de amor. Ele está sempre lamentando o amor impossível devido à estratificação social.
Além disso, o amor cortês está relacionado ao amor cristão. O sofrimento amoroso do trovador é análogo ao sofrimento de Cristo, pois não havia interesse ou troca. O caritas (caridade em latim) era difundido pela nobreza medieval. Não era um amor para satisfazer o desejo do corpo, mas para aperfeiçoar a alma através de uma experiência espiritual, idealizando a imagem da mulher.


D. Dinis

[Cantiga de amor]


O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,

porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss'amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.

E tod[o] aquesto mi fez fazer
o mui gram medo que eu de vós hei
e des i por vos dar a entender
que por outra morria - de que hei,
bem sabedes, mui pequeno pavor;
e des oimais, fremosa mia senhor,
se me matardes, bem vo-lo busquei.

E creede que haverei prazer
de me matardes, pois eu certo sei
que esso pouco que hei de viver
que nẽum prazer nunca veerei;
e porque sõo desto sabedor,
se mi quiserdes dar morte, senhor,
or gram mercee vo-lo [eu] terrei.







Referências bibliográficas
<http://www.miniweb.com.br/Historia/artigos/i_media/pdf/barros.pdf> Acesso em 27/08/2017 às 18:34.
<http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=530&pv=sim> Acesso em 27/08/2017 às 18:35.<https://www.youtube.com/watch?v=CkzqAH8y0uY> Acesso em 27/08/2017 às 18:37.

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