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Mostrando postagens de setembro, 2017

Trovadores Contemporâneos - Parte III

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Por fim, nas cantigas de escárnio e maldizer, de gênero satírico, encontramos como tema a crítica, a difamação e a ironia. Especificamente na cantiga de maldizer, a crítica não é velada, portanto revela-se o nome do insultado e apresenta um conteúdo mais agressivo. Na canção, Geni e Zepelim , de Chico Buarque, é possível conectar os aspectos das cantigas de maldizer. Geni, protagonista da música, é maltratada e atacada pela população da cidade, que se referem a ela de forma sórdida. Vejamos a letra da música: Geni e o Zepelim De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato E também vai amiúde Com os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir Ela é um poço de bondade E é por isso que...

Trovadores Contemporâneos - Parte II

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Já nas cantigas de amigo, tem-se o eu-lírico feminino apresentando a figura da mulher camponesa, que expressa sua paixão e seus lamentos. Por não ter  seu amado por perto, ela faz uso das cantigas para compartilhar, com sua mãe, irmã ou amigas, sua tristeza. Em algumas é possível encontrar também um diálogo entre a camponesa e seu confidente. Na canção Você faz falta aqui , de Maiara e Maraisa, vemos alguns aspectos dessas cantigas. Além de apresentar voz feminina, é perceptível a lamúria da mulher pela ausência de seu amado. Vejamos a letra da música: Você faz falta aqui Você, você, faz falta, falta aqui, aqui, aqui Que o som, o som bate, bate, volta, volta, volta Não tem mais nada entre o chão e o teto, teto, teto Só o eco, eco, eco, eco Tem certeza que você levou tudo? Tem certeza que não esqueceu nada? Eu só sei que até o criado mudo Do seu livro preferido sente falta É que eu te vejo em tudo, em cada canto dessa casa Nos cabides, nas gave...

Trovadores Contemporâneos - Parte I

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Depois de termos analisado o Trovadorismo em seus vários aspectos, podemos afirmar que encontramos alguma semelhança entre o processo de elaboração das cantigas medievais e a produção musical contemporânea? Comecemos pelas cantigas de amor: sabemos que o amor, despertado no eu lírico pela "senhor", era irrealizável e muitas vezes direcionado a uma mulher casada e integrante da nobreza. É o amor cortês, que como não encontra acolhida no seio da mulher, gera sofrimento, ocasionando o "amour de loin" (amor de longe). Na canção "Mina do condomínio", o compositor, Seu Jorge, descreve uma situação parecida com a das cantigas medievais. O eu lírico se angustia porque a vizinha não lhe dá atenção. Vejamos a letra da música: Mina do Condomínio Tô namorando aquela mina Mas não sei se ela me namora Mina maneira do condomínio Lá do bairro onde eu moro Tô namorando aquela mina Mas não sei se ela me namora Mina maneira do condomínio L...

A mulher medieval

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              A mulher medieval é olhada sob dois diferentes ângulos pelos trovadores.                        Nas cantigas de amor, o trovador fala de uma mulher idealizada. Ele se dirige à dama na esperança de que ela pudesse entender sua coita. Com o objetivo de uma elevação espiritual, o poeta mantém distância de sua amada. É um amor purus dentro do modelo proposto pelo caritas no universo cultural cristão. Isso deve justificar por que, na maioria das vezes, o trovador se apaixonava por mulheres casadas. Afinal, se o amor é irrealizável, na teoria, não há possibilidade de adultério.                  [Cantiga de Amor de João Garcia de Guilhade] A bõa dona por que eu trobava, e que nom dava nulha rem por mi, pero s'ela de mi rem nom pagava, sofrendo coita s...